Canindé localiza-se no
interior ao Norte do Ceará, distante 115 km da capital Fortaleza. Tem 74.486 habitantes,
uma área de 3.218,481 km², latitude e um clima semiárido (IBGE, 2016). Além
disso, tem como principais atividades econômicas o comércio e a agropecuária, sendo
o turismo religioso, a romaria e a peregrinação, atividades presentes na
cidade, por isso é também denominada “Cidade da Fé”. Canindé é considerada uma
das mais importantes cidades do Ceará. Há diversas versões sobre o surgimento da
cidade, conforme apresenta o autor Augusto César:
O
Ceará foi incorporado à capitania de Pernambuco, quando se deu o início da
interiorização da colonização, através da atividade pecuária. Para que a região
se desenvolvesse por meio dessa prática, havia a necessidade de se evitar o conflito
do branco com o índio, o dono de fato da terra, enquanto o branco a cada dia
avançava com suas fazendas (CÉSAR, 2013, p.21).
A partir da vinda dos portugueses ao Brasil, a
Igreja Católica aliou-se aos colonizadores, facilitando a permanência ibérica
no Ceará. Desde o princípio, a igreja procurou doutrinar com intensidade os
índios, eram os ensinamentos dos Jesuítas mais severos, havendo punições
físicas em caso de desobediência com o uso da palmatória[1],
diferentemente do que eles aplicavam com os filhos dos colonos. Os
Jesuítas aproximavam-se e despertavam o interesse dos
nativos através das melodias, danças e discursos similares aos que os
ameríndios conheciam pelas crenças e
ensinamentos dos seus pajés e orientadores espirituais.
Devido as dificuldades para
desempenhar seus trabalhos, os missionários forçaram as lideranças indígenas,
chefes de tribos a se afastarem das aldeias, fato que tornou os Jesuítas,
mentores que convertiam e ensinavam novos saberes aos índios. Esses aldeamentos
ficaram conhecidos como missões. Uma dessas
representações foi a tribo Canindés que se
instalou na área denominada de Baturité. Segundo César Pinto (2003) no ano de
1762, instalou-se na região hoje conhecida por Baturité, uma missão dos índios
Canindés e Jenipapos. Tal missão foi elevada à categoria de freguesia, desmembrada
da vila de Aquiraz. César afirma:
Em
1764, Manoel Lopes Cabreira, morador da ribeira do Curu, dirigiu petição ao
governador da capitania, tenente-coronel Antônio José Vitoriano Borges da
Fonseca, dizendo ter descoberto um terreno de criar gado em um riacho chamado
Salgado, que deságua na ribeira do Canindé, e este, no Curu. Cabreira afirmou
estar de pose mansa e pacífica da referida terra, onde levantou currais,
explorando-o com a povoação de gado, desde 1753, sem que ninguém o
contraditasse (CÉSAR, 2013, p.22).
No final do século XVIII, na
região hoje conhecida por Canindé, Francisco Xavier de Medeiros instalou-se em
uma “casa alpendrada em um sítio, com intuito de erguer uma Capela em homenagem
a São Francisco das Chagas” (ROCHA, 1911, p.2).
Na época, essa região era pouco habitada, tornando-se
uma vila de poucos casebres nos arredores da caatinga. Afirma-se que antes de
Xavier de Medeiros assentar-se neste lugar, a população era pouca, e que seu
primeiro habitante foi um mestiço descendente da tribo dos Canindés, conhecido
por Gonçalo. Nesse mesmo período, nos locais mais centralizados ao lado do rio
Canindé, já existiam algumas fazendas com criação de gado, que pertenciam à
fazendeiros vindos de Jaguaribe, Fortaleza e de Baturité.
De acordo com Willeke (1973),
pesquisas históricas realizadas dão conta que foi atribuído à Francisco Xavier
de Medeiros, sargento-mor, as obras na construção da capela de São Francisco
das Chagas, que teve início no ano de 1775. Contudo, houve um espaço de tempo em
que a construção ficou parada, fato este atribuído a uma visão mística[2]
sobre o poderio do Santo na cidade. Há duas versões sobre isso: a primeira que
se parou a construção da capela devido à seca e a segunda devido a obra embargada.
O que se sabe ao certo é que o terreno onde se iria construir a obra não pertencia
a Xavier de Medeiros e por isso segundo Willeke:
Xavier de Medeiros
teria principiado as obras, pronto para comprar o terreno necessário, ou adquiri-lo,
por doação, logo que aparecesse um dos proprietários ou um seu representante.
Quem se apresentou foram dois oficiais de justiça, embargando o trabalho já
encetado. Medeiros escreveu aos donos de Renguengue, comunicando-lhe a intenção
de adquirir um patrimônio para São Francisco ao que eles responderam
negativamente. Adoecendo o primeiro dono, morreu em breve, o mesmo acontecendo,
em seguida, ao segundo, ao que o terceiro, já sentindo os sintomas da moléstia
mortal, prometeu a São Francisco doar o patrimônio, contanto que ficasse
restabelecido pelo Santo. Valido na sua extrema aflição, mandou prevenir a
Medeiros que nada mais obstava à construção da Igreja, pois, o patrimônio seria
doado em agradecimento a São Francisco das Chagas. (WILLEKE,1973, p. 38)
O ultimo homem a quem
pertencia o terreno, atualmente local onde foi construída a Basílica de São
Francisco das Chagas, doou a terra para a construção da capela com medo de
contrariar ao Santo e vir a óbito. Crenças à parte, com o fim da seca no ano de
1793, os trabalhos da construção voltaram sem haver nenhuma interrupção. Juntamente
com a finalização da construção da capela, chega a Canindé, vinda de Portugal a
imagem de São Francisco que foi ofertada pelo Coronel Jeronimo Machado. Somente
em 1796, a construção foi concluída definitivamente tendo como responsável o
Padre João José Vieira e o Capitão Jerônimo Machado.
Em 1914, a vila de Canindé é
elevada à categoria de cidade, de acordo com a Lei Estadual nº 1.221, de 25 de
agosto e tem como instrumento de apoio o Decreto Provincial nº 340 com
referência à denominação de São Francisco das Chagas de Canindé. Em 1925, a
Igreja Matriz é elevada à categoria de Basílica Menor. Elevado o Distrito à
categoria de Município, segundo Lei nº 1.221, de 25 de agosto de 1914,
alterou-se a denominação para o nome atual.
Os milagres atribuídos a São
Francisco das Chagas são inúmeros. Há relatos que desde os primórdios a
construção sempre teve ligada à esses fatos, dois deles ficaram marcante antes
mesmo que acontecesse o término da obra. O primeiro milagre se deu com o
pedreiro Antônio Maciel que ficou preso pela camisa à uma tábua, abaixo da
janela da sineira, após ter desprendido de um andaime, que logo foi retirado
por meio de uma corda pelos seus companheiros de trabalho. O segundo milagre deu-se
com o próprio Francisco Xavier de Medeiros, quando preparava a madeira,
machucando-se com uma das tesouras que caiu sobre a sua coxa, após o ocorrido
foi levado para casa, mas retornou ao trabalho sem nada a sentir no dia seguinte.
Os episódios acima citados
foram concedidos à São Francisco das Chagas por não haver explicações com
fundamento científico. A propagação dos milagres[3]
expandiu-se rapidamente e as pessoas doentes, interpelaram ao santo em busca de
cura de suas enfermidades. Gerou-se no convívio dos fiéis o costume das
promessas devido as graças alcançadas, e em agradecimento, fazia-se o esforço
de vir a Canindé para assim trazer e entregar a doação de pequenos donativos. As
romarias surgiram na cidade, não havendo como determinar a época que se teve início.
Era verídico que no final do século XVIII, segundo Damasceno e Cunha (1961,
p.337) “a primeira festa de São Francisco das Chagas ocorreu em 4 de Outubro de
1806.”
Canindé popularmente
conhecida como a “Cidade da Fé”[4]
tem a expressão aderida através de um título de um LP[5]
lançado no meio da década de 80, no século XX, dedicado aos devotos de São
Francisco através da gravação de uma missa celebrada por Frei Lucas Dolle e
cantada pelo o coral São Tarcísio, um dos corais mais tradicionais de Canindé. Segundo
Pereira (2015), o título do LP (Figura 1) foi dado através de uma frase em que
o Sr. Virgílio Cruz se referiu a cidade em uma roda de conversa entre amigos.
Figura
1 - Capa do LP “Canindé a Cidade da Fé”.
Segundo Filho (1984, contra
capa LP) na (Figura 2) “Canindé é a Cidade da Fé. Canindé é cidade abençoada,
pelo milagroso São Francisco. O progresso de Canindé é uma prova verídica da
força do milagre.”
Figura 2 – Contra Capa do LP “Canindé
a Cidade da Fé”
Fonte: http://produto.mercadolivre.com.br/MLB,
2015
A festa de São Francisco das
Chagas já faz parte da tradição do povo canindeense, e há diversos outros eventos
e festas culturais ao longo do ano em Canindé dentre eles destacam-se: Dia de
Reis, Dia do Romeiro, Semana Santa, Coroação da imagem de Nossa Senhora, Festas
Juninas, Perdão de Assis, Festa de Santa Clara, Chagas de São Francisco, Dia da
Consciência Negra e a Celebração do Natal, que se integram no calendário dos
eventos da cidade, gerando movimentos culturais e pessoas para visitar a cidade
e a comunidade canindeense.
A festa dedicada aos Reis Magos acontece no dia 06 de janeiro, onde a comunidade celebra, fazendo visitas às famílias nas noites que antecede a comemoração. Dia do Romeiro, 03 de fevereiro, é a culminância do período das romarias, encerrando com homenagens realizadas pela Paróquia de São Francisco das Chagas e com apoio da Prefeitura Municipal.
Durante a Semana Santa há uma contemplação para a comunidade canindeense que ocorre em data móvel de acordo com o calendário litúrgico. Mês de maio é celebrada com movimentos marianos em todas as capelas dos bairros e na Igreja de Nossa Senhora das Dores que centraliza a maior parte de fiéis, fechando com a Coroação de Nossa Senhora na Praça dos Romeiros e no último dia do mês com a carreata em agradecimento dos canindeenses pelas graças recebidas durante o mês à Mãe de Deus. Além disso, tem a festa dos três santos, festejados durante o mês de junho: Santo Antônio, 1 à 13 acontece no pátio do Convento a trezena, São João, no bairro Riacho São Francisco, ocorre durante os dias 14 à 24 de junho e São Pedro, dos dias 19 à 29 na própria capela, no bairro Alto do Moinho, próxima à Estátua de São Francisco.
A festa Perdão de Assis é um memorial a São Francisco, que fez um pedido e recebeu uma indulgência quando fazia suas orações na Igrejinha de Porciúncula, próxima à cidade de Assis na Itália, e é celebrada pela Paróquia de São Francisco das Chagas em Canindé no dia 02 de Agosto.
O período de celebração em memória à Santa Clara é de 2 a 11 de agosto no Mosteiro das Irmãs Clarissas, no bairro Santa Clara. A família franciscana celebra no dia 17 de setembro, a festa da impressão das Chagas, que também é chamada de Estigmas de São Francisco de Assis. Natal em Canindé é celebrada por todos que vem à cidade com fé nos dias que antecede a Natividade de Jesus, 25 de dezembro.
A festa dedicada aos Reis Magos acontece no dia 06 de janeiro, onde a comunidade celebra, fazendo visitas às famílias nas noites que antecede a comemoração. Dia do Romeiro, 03 de fevereiro, é a culminância do período das romarias, encerrando com homenagens realizadas pela Paróquia de São Francisco das Chagas e com apoio da Prefeitura Municipal.
Durante a Semana Santa há uma contemplação para a comunidade canindeense que ocorre em data móvel de acordo com o calendário litúrgico. Mês de maio é celebrada com movimentos marianos em todas as capelas dos bairros e na Igreja de Nossa Senhora das Dores que centraliza a maior parte de fiéis, fechando com a Coroação de Nossa Senhora na Praça dos Romeiros e no último dia do mês com a carreata em agradecimento dos canindeenses pelas graças recebidas durante o mês à Mãe de Deus. Além disso, tem a festa dos três santos, festejados durante o mês de junho: Santo Antônio, 1 à 13 acontece no pátio do Convento a trezena, São João, no bairro Riacho São Francisco, ocorre durante os dias 14 à 24 de junho e São Pedro, dos dias 19 à 29 na própria capela, no bairro Alto do Moinho, próxima à Estátua de São Francisco.
A festa Perdão de Assis é um memorial a São Francisco, que fez um pedido e recebeu uma indulgência quando fazia suas orações na Igrejinha de Porciúncula, próxima à cidade de Assis na Itália, e é celebrada pela Paróquia de São Francisco das Chagas em Canindé no dia 02 de Agosto.
O período de celebração em memória à Santa Clara é de 2 a 11 de agosto no Mosteiro das Irmãs Clarissas, no bairro Santa Clara. A família franciscana celebra no dia 17 de setembro, a festa da impressão das Chagas, que também é chamada de Estigmas de São Francisco de Assis. Natal em Canindé é celebrada por todos que vem à cidade com fé nos dias que antecede a Natividade de Jesus, 25 de dezembro.
[1] Segundo o dicionário
Informal (http://www.dicionarioinformal.com.br/) a palavra palmatória é um
objeto confeccionado de madeira com uma parte arredondada, usando antigamente
nas escolas, pais de famílias, nas prisões, senzalas, para puni-los ou exigir
algo.
[2] Segundo o dicionário
Michaelis (http://michaelis.uol.com.br/)
a palavra místico vem do grego mystikós que respeito à vida espiritual, a vida
religiosa. Aquilo que se relaciona com o espírito, e não com a
matéria. Misterioso, alegórico,
figurado (falando das coisas religiosas que envolvem razão oculta e
incompreensível).
[3] Milagres – De acordo com
o Dicionário inFormal (http://www.dicionarioinformal.com.br) Entende-se por
milagre a ação, o fato ou acontecimento que é impossível de explicar-se
seguindo as ciências naturais atribuindo-se então o acontecido a um mover
sobrenatural de ordem Divina, ou seja, a Deus.
[4] De
acordo com Frei João Sanning a terminologia “Cidade da Fé” vem de origens
remotas e não há consenso comum quanto a sua origem.
[5] Segundo Roland Gelatt (https://pt.wikipedia.org/wiki/Disco_de_vinil)
LP - O disco
de vinil, conhecido simplesmente como vinil, ou ainda Long Play (LP) é uma mídia
desenvolvida no final da década de 1940 para a reprodução musical que usa um
material plástico chamado vinil.