sexta-feira, 17 de novembro de 2017

CONTEXTO HISTÓRICO DE CANINDÉ E OS EVENTOS RELIGIOSOS.



Canindé localiza-se no interior ao Norte do Ceará, distante 115 km da capital Fortaleza. Tem 74.486 habitantes, uma área de 3.218,481 km², latitude e um clima semiárido (IBGE, 2016). Além disso, tem como principais atividades econômicas o comércio e a agropecuária, sendo o turismo religioso, a romaria e a peregrinação, atividades presentes na cidade, por isso é também denominada “Cidade da Fé”. Canindé é considerada uma das mais importantes cidades do Ceará. Há diversas versões sobre o surgimento da cidade, conforme apresenta o autor Augusto César:
O Ceará foi incorporado à capitania de Pernambuco, quando se deu o início da interiorização da colonização, através da atividade pecuária. Para que a região se desenvolvesse por meio dessa prática, havia a necessidade de se evitar o conflito do branco com o índio, o dono de fato da terra, enquanto o branco a cada dia avançava com suas fazendas (CÉSAR, 2013, p.21).

 A partir da vinda dos portugueses ao Brasil, a Igreja Católica aliou-se aos colonizadores, facilitando a permanência ibérica no Ceará. Desde o princípio, a igreja procurou doutrinar com intensidade os índios, eram os ensinamentos dos Jesuítas mais severos, havendo punições físicas em caso de desobediência com o uso da palmatória[1], diferentemente do que eles aplicavam com os filhos dos colonos.  Os Jesuítas aproximavam-se e despertavam o interesse dos nativos através das melodias, danças e discursos similares aos que os ameríndios conheciam pelas crenças e ensinamentos dos seus pajés e orientadores espirituais.
Devido as dificuldades para desempenhar seus trabalhos, os missionários forçaram as lideranças indígenas, chefes de tribos a se afastarem das aldeias, fato que tornou os Jesuítas, mentores que convertiam e ensinavam novos saberes aos índios. Esses aldeamentos ficaram conhecidos como missões. Uma dessas representações foi a tribo Canindés que se instalou na área denominada de Baturité. Segundo César Pinto (2003) no ano de 1762, instalou-se na região hoje conhecida por Baturité, uma missão dos índios Canindés e Jenipapos. Tal missão foi elevada à categoria de freguesia, desmembrada da vila de Aquiraz. César afirma:

Em 1764, Manoel Lopes Cabreira, morador da ribeira do Curu, dirigiu petição ao governador da capitania, tenente-coronel Antônio José Vitoriano Borges da Fonseca, dizendo ter descoberto um terreno de criar gado em um riacho chamado Salgado, que deságua na ribeira do Canindé, e este, no Curu. Cabreira afirmou estar de pose mansa e pacífica da referida terra, onde levantou currais, explorando-o com a povoação de gado, desde 1753, sem que ninguém o contraditasse (CÉSAR, 2013, p.22).

No final do século XVIII, na região hoje conhecida por Canindé, Francisco Xavier de Medeiros instalou-se em uma “casa alpendrada em um sítio, com intuito de erguer uma Capela em homenagem a São Francisco das Chagas” (ROCHA, 1911, p.2).
 Na época, essa região era pouco habitada, tornando-se uma vila de poucos casebres nos arredores da caatinga. Afirma-se que antes de Xavier de Medeiros assentar-se neste lugar, a população era pouca, e que seu primeiro habitante foi um mestiço descendente da tribo dos Canindés, conhecido por Gonçalo. Nesse mesmo período, nos locais mais centralizados ao lado do rio Canindé, já existiam algumas fazendas com criação de gado, que pertenciam à fazendeiros vindos de Jaguaribe, Fortaleza e de Baturité.
De acordo com Willeke (1973), pesquisas históricas realizadas dão conta que foi atribuído à Francisco Xavier de Medeiros, sargento-mor, as obras na construção da capela de São Francisco das Chagas, que teve início no ano de 1775. Contudo, houve um espaço de tempo em que a construção ficou parada, fato este atribuído a uma visão mística[2] sobre o poderio do Santo na cidade. Há duas versões sobre isso: a primeira que se parou a construção da capela devido à seca e a segunda devido a obra embargada. O que se sabe ao certo é que o terreno onde se iria construir a obra não pertencia a Xavier de Medeiros e por isso segundo Willeke:

Xavier de Medeiros teria principiado as obras, pronto para comprar o terreno necessário, ou adquiri-lo, por doação, logo que aparecesse um dos proprietários ou um seu representante. Quem se apresentou foram dois oficiais de justiça, embargando o trabalho já encetado. Medeiros escreveu aos donos de Renguengue, comunicando-lhe a intenção de adquirir um patrimônio para São Francisco ao que eles responderam negativamente. Adoecendo o primeiro dono, morreu em breve, o mesmo acontecendo, em seguida, ao segundo, ao que o terceiro, já sentindo os sintomas da moléstia mortal, prometeu a São Francisco doar o patrimônio, contanto que ficasse restabelecido pelo Santo. Valido na sua extrema aflição, mandou prevenir a Medeiros que nada mais obstava à construção da Igreja, pois, o patrimônio seria doado em agradecimento a São Francisco das Chagas. (WILLEKE,1973, p. 38)

O ultimo homem a quem pertencia o terreno, atualmente local onde foi construída a Basílica de São Francisco das Chagas, doou a terra para a construção da capela com medo de contrariar ao Santo e vir a óbito. Crenças à parte, com o fim da seca no ano de 1793, os trabalhos da construção voltaram sem haver nenhuma interrupção. Juntamente com a finalização da construção da capela, chega a Canindé, vinda de Portugal a imagem de São Francisco que foi ofertada pelo Coronel Jeronimo Machado. Somente em 1796, a construção foi concluída definitivamente tendo como responsável o Padre João José Vieira e o Capitão Jerônimo Machado.
Em 1914, a vila de Canindé é elevada à categoria de cidade, de acordo com a Lei Estadual nº 1.221, de 25 de agosto e tem como instrumento de apoio o Decreto Provincial nº 340 com referência à denominação de São Francisco das Chagas de Canindé. Em 1925, a Igreja Matriz é elevada à categoria de Basílica Menor. Elevado o Distrito à categoria de Município, segundo Lei nº 1.221, de 25 de agosto de 1914, alterou-se a denominação para o nome atual.
Os milagres atribuídos a São Francisco das Chagas são inúmeros. Há relatos que desde os primórdios a construção sempre teve ligada à esses fatos, dois deles ficaram marcante antes mesmo que acontecesse o término da obra. O primeiro milagre se deu com o pedreiro Antônio Maciel que ficou preso pela camisa à uma tábua, abaixo da janela da sineira, após ter desprendido de um andaime, que logo foi retirado por meio de uma corda pelos seus companheiros de trabalho. O segundo milagre deu-se com o próprio Francisco Xavier de Medeiros, quando preparava a madeira, machucando-se com uma das tesouras que caiu sobre a sua coxa, após o ocorrido foi levado para casa, mas retornou ao trabalho sem nada a sentir no dia seguinte.
Os episódios acima citados foram concedidos à São Francisco das Chagas por não haver explicações com fundamento científico. A propagação dos milagres[3] expandiu-se rapidamente e as pessoas doentes, interpelaram ao santo em busca de cura de suas enfermidades. Gerou-se no convívio dos fiéis o costume das promessas devido as graças alcançadas, e em agradecimento, fazia-se o esforço de vir a Canindé para assim trazer e entregar a doação de pequenos donativos. As romarias surgiram na cidade, não havendo como determinar a época que se teve início. Era verídico que no final do século XVIII, segundo Damasceno e Cunha (1961, p.337) “a primeira festa de São Francisco das Chagas ocorreu em 4 de Outubro de 1806.”
Canindé popularmente conhecida como a “Cidade da Fé”[4] tem a expressão aderida através de um título de um LP[5] lançado no meio da década de 80, no século XX, dedicado aos devotos de São Francisco através da gravação de uma missa celebrada por Frei Lucas Dolle e cantada pelo o coral São Tarcísio, um dos corais mais tradicionais de Canindé. Segundo Pereira (2015), o título do LP (Figura 1) foi dado através de uma frase em que o Sr. Virgílio Cruz se referiu a cidade em uma roda de conversa entre amigos.  

Figura 1 - Capa do LP “Canindé a Cidade da Fé”.
 

Segundo Filho (1984, contra capa LP) na (Figura 2) “Canindé é a Cidade da Fé. Canindé é cidade abençoada, pelo milagroso São Francisco. O progresso de Canindé é uma prova verídica da força do milagre.”  

Figura 2 – Contra Capa do LP “Canindé a Cidade da Fé”
 

A festa de São Francisco das Chagas já faz parte da tradição do povo canindeense, e há diversos outros eventos e festas culturais ao longo do ano em Canindé dentre eles destacam-se: Dia de Reis, Dia do Romeiro, Semana Santa, Coroação da imagem de Nossa Senhora, Festas Juninas, Perdão de Assis, Festa de Santa Clara, Chagas de São Francisco, Dia da Consciência Negra e a Celebração do Natal, que se integram no calendário dos eventos da cidade, gerando movimentos culturais e pessoas para visitar a cidade e a comunidade canindeense. 
A festa dedicada aos Reis Magos acontece no dia 06 de janeiro, onde a comunidade celebra, fazendo visitas às famílias nas noites que antecede a comemoração. Dia do Romeiro, 03 de fevereiro, é a culminância do período das romarias, encerrando com homenagens realizadas pela Paróquia de São Francisco das Chagas e com apoio da Prefeitura Municipal. 
Durante a Semana Santa há uma contemplação para a comunidade canindeense que ocorre em data móvel de acordo com o calendário litúrgico. Mês de maio é celebrada com movimentos marianos em todas as capelas dos bairros e na Igreja de Nossa Senhora das Dores que centraliza a maior parte de fiéis, fechando com a Coroação de Nossa Senhora na Praça dos Romeiros e no último dia do mês com a carreata em agradecimento dos canindeenses pelas graças recebidas durante o mês à Mãe de Deus. Além disso, tem a festa dos três santos, festejados durante o mês de junho: Santo Antônio, 1 à 13 acontece no pátio do Convento a trezena, São João, no bairro Riacho São Francisco, ocorre durante os dias 14 à 24 de junho e São Pedro, dos dias 19 à 29 na própria capela, no bairro Alto do Moinho, próxima à Estátua de São Francisco.  
A festa Perdão de Assis é um memorial a São Francisco, que fez um pedido e recebeu uma indulgência quando fazia suas orações na Igrejinha de Porciúncula, próxima à cidade de Assis na Itália, e é celebrada pela Paróquia de São Francisco das Chagas em Canindé no dia 02 de Agosto. 
O período de celebração em memória à Santa Clara é de 2 a 11 de agosto no Mosteiro das Irmãs Clarissas, no bairro Santa Clara. A família franciscana celebra no dia 17 de setembro, a festa da impressão das Chagas, que também é chamada de Estigmas de São Francisco de Assis. Natal em Canindé é celebrada por todos que vem à cidade com fé nos dias que antecede a Natividade de Jesus, 25 de dezembro.






[1] Segundo o dicionário Informal (http://www.dicionarioinformal.com.br/) a palavra palmatória é um objeto confeccionado de madeira com uma parte arredondada, usando antigamente nas escolas, pais de famílias, nas prisões, senzalas, para puni-los ou exigir algo.
[2] Segundo o dicionário Michaelis (http://michaelis.uol.com.br/) a palavra místico vem do grego mystikós que respeito à vida espiritual, a vida religiosa. Aquilo que se relaciona com o espírito, e não com a matéria. Misterioso, alegórico, figurado (falando das coisas religiosas que envolvem razão oculta e incompreensível).
[3] Milagres – De acordo com o Dicionário inFormal (http://www.dicionarioinformal.com.br) Entende-se por milagre a ação, o fato ou acontecimento que é impossível de explicar-se seguindo as ciências naturais atribuindo-se então o acontecido a um mover sobrenatural de ordem Divina, ou seja, a Deus.
[4] De acordo com Frei João Sanning a terminologia “Cidade da Fé” vem de origens remotas e não há consenso comum quanto a sua origem.
[5] Segundo Roland Gelatt (https://pt.wikipedia.org/wiki/Disco_de_vinil) LP - O disco de vinil, conhecido simplesmente como vinil, ou ainda Long Play (LP) é uma mídia desenvolvida no final da década de 1940 para a reprodução musical que usa um material plástico chamado vinil. 

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem por objetivo analisar o desempenho e os obstáculos enfrentados para a sobrevivência e crescimento dos hotéis cadastrados na Prefeitura Municipal de Canindé e identificados pela pesquisa de campo em 2016. O Município apresenta o número de 54 pequenos negócios hoteleiros incluindo os ativos e inativos, a maioria sem muita qualificação, já que os empreendimentos hoteleiros enfrentam diversas dificuldades de manutenção e até de classificação.
A pesquisa deu-se a partir dos dados do Cadastro Econômico – Cadastro de Contribuintes no Departamento de Arrecadação do Município, com totalização de 54 cadastros, sendo identificados pela pesquisadora 47 empreendimentos ativos em diversas atividades econômicas como Hotel, Hotel e Restaurante, Pousada e Motel. Desse universo, a amostra foi os empreendimentos caracterizados como Hotéis, obtendo-se um número de 20 empreendimentos ativos. Identificou-se ainda, em campo, 04 empreendimentos que não se encontravam cadastrados no Departamento de Arrecadação do Município, mas que estavam ativos. Sendo assim, no universo de 24 empreendimentos, a pesquisa foi realizada com 20 hotéis.
A cidade apresenta na maioria pousadas[1] e hotéis[2] não regulamentados pelo Sistema Brasileiro de Classificação de Meios de Hospedagem (SBClass), EMBRATUR, Guia Quatro Rodas, entre outras classificações. A SBClass conta com adesão voluntária, mas para isso é necessário que o Meio de Hospedagem esteja com seu cadastro regular no Ministério do Turismo (Cadastur). O Regulamento do Sistema Oficial de Classificação de Meio de Hospedagem (2015) sob Deliberação Normativa n.429 do Instituto Brasileiro de Turismo – EMBRATUR estabelece-nos uma classificação com sete níveis de meios de hospedagem para compor a diversidade da oferta nacional, tais como: Hotel, Resort, Hotel Fazenda, Cama & Café, Hotel Histórico, Pousada e Flat/ Apart-Hotel e utiliza as estrelas para simbolizar e diferenciar as categorias.
O município apresenta na categorização de equipamentos extra hoteleiros, como, por exemplo, residências alugadas. Segundo Barreto (2006), a residência alugada pode ser entendida como casas, apartamentos, pensões ou quartos em casa de família.
Além do fluxo de hóspedes ser sazonal, os empreendimentos hoteleiros não adotam um sistema unificado e automatizado de gestão, e sem um sistema automatizado, para captar e analisar informações para tomada de decisões dependerá de mais tempo e recursos (humanos, financeiros, administrativos) para serem realizadas. A maioria dos hotéis de Canindé é administrada pelos proprietários, também chamados de gerentes inexperientes na área.[3] Além disso, há uma deficiência no relacionamento com o cliente e dificuldade em relacionar entre os setores do hotel, por isso a importância deste estudo para a cidade. Vale ressaltar que há ligação forte de administração familiar dentro dos empreendimentos prevalecendo os critérios hereditários sem entendimento da dimensão técnica.
Os principais autores estudados sobre a história de Canindé foram Rocha (1911), Willeke (1973), Vieira (1997), Pinto (2003), Lima (2012), turismo foram Montejano (2001), Castelli (2003) Barreto (2008) e em gestão de negócios Chiavenato (1995), Tachizawa (2001) e Lashley (2011). Busca-se com este trabalho para ampliar a compreensão a respeito do setor hoteleiro canindeense e contribuir para conhecimento e incentivo a futuras produções a respeito desse tema. 
As perguntas fundantes que norteiam este estudo tem como base as seguintes indagações: Quais são os empreendimentos hoteleiros cadastrados na Prefeitura Municipal de Canindé? Quais são os hotéis que estão em funcionamento na cidade em 2016? Quais são os desempenhos e obstáculos enfrentados pelos hotéis de acordo com seus proprietários e/ou administradores? As respostas a estas indagações estão direcionadas no trabalho a seguir.


[1] De acordo com o Manual do Usuário (2016) SBClass entende-se por Pousada, empreendimentos com características nivelado, podendo ser constituído de trinta Unidades Habitacionais (UH’s) e até 90 leitos no máximo, contendo serviços recepção, Alimentos e Bebidas (A&B) com estadia em edificações única e com até três andares ou possuir chalé e bangalôs (MINISTÉRIO DO TURISMO, online, 2016).

[2] Hotel é um estabelecimento que oferece o serviço de recepção, alojamento temporário, com ou sem A&B, podendo ser ofertar unidades simples e com utilização particular por parte do hóspede efetuando pagamento por diária. Além desses, existem empreendimentos extra hoteleiros como as pensões, imóveis locados e quartos leitos (MINISTÉRIO DO TURISMO, online, 2016).
[3] Dados identificados pela pesquisadora através da pesquisa de campo. De acordo com Nebel, Eddystone C. e Ghei, Ajay (2004) gerente geral é o profissional dinâmico que se destaca pelo plano de negócios em direção ao domínio e o exemplo de maneira em prol a todo grupo de trabalho, portanto, ele é o referencial da empresa.